Ventania em cena no documentário “Só para Loucos”


Ventania/Foto: Lucas Machado
Por Marlon de Paula


Na Chegada em São Thomé das Letras, sul de Minas, eles seguiram para casa de um dos ícones da cidade. A campainha não tocava e, provavelmente, não deveria estar funcionando. Então gritaram para ver a presença de alguém na casa, chega Ventania, “em uma humildade surprendente para nos atender”, narra Diego Alexandre, graduando em Comunicação Social, pela Universidade Federal de São João del Rei, que recentemente embarcou na direção e roteiro do seu primeiro documentário com o título “Só para Loucos”.

Alexandre, em uma entrevista concedida à Tradução Literal, relata as experiências e intenções com o documentário. Trazendo olhares mais intimistas sobre a vida, família e a carreira do hippie mais famoso do Brasil, que ganhou fama por levar uma vida transcendental regada à base de muitos cogumelos azuis e maconha, tornando- se conhecido no Brasil com o ritmo “rock estroncho” que resgata valores da identidade hippie marcantes na década de 70.  

         
TL:Como começou a idéia de criação do documentário sobre o Ventania?


Diego Alexandre: Eu não conhecia a obra do Ventania, mas tenho uma amiga que tinha ido em vários shows dele e sempre falava. Um dia por curiosidade resolvi ouvir e, curti bastante. Pesquisei sobre ele na internet, li, vi a entrevista dele com o Danilo Gentili. Pensei comigo,  por que ninguém tinha feito um documentário sobre este cara? Entrei em contato com o empresário dele e, conversamos sobre minha vontade. Ele passou a idéia para o Ventania, que também achou legal e por fim agendamos. Procurei o pessoal da produtora Pato Preto, para eles entrarem com equipamento e com a produção. O Léo, integrante da produtora, me ajudou, montamos uma equipe e fomos para São Thomé.




TL:Quanto tempo durou o desenvolvimento do roteiro e início das filmagens?  Quais foram as dificuldades durante  o trabalho?

Diego Alexandre: Pouco menos de três meses foi a criação do roteiro e gravação em São Thomé das Letras. Como não o conhecia e, nunca tinha ido para São Thomé, não montei um roteiro pensando em um lugar. Eu assisti entrevistas com ele e fui anotando coisas legais que ele poderia contar. Eu queria que ele contasse a inspiração das canções. Fica claro nas músicas uma ligação direta com a vida dele. Queria perguntar também como é a viagem dele com o cogumelo e com as drogas principalmente.
Foram 3 dias de filmagens,  2 dias com o Ventania e, no último, fizemos externas da cidade.O primeiro dia fez sol, pensei “que legal! nós vamos gravar  tudo em externa!”, pois essa era minha ideia original, era gravar tudo pela cidade, na Pedra da Pirâmide e na Pedra da Bruxa. No segundo dia o tempo fechou, não dava para gravar nos lugares de São Thomé, era um lugar frio, de muita neblina. No terceiro dia, já choveu. Nada foi do jeito que planejei. Foi tudo na casa dele e, em parte, foi legal. A gente pegou momentos íntimos dele almoçando com a família, com a sogra dele que, às vezes, dá uma força para a mulher dele, filmamos a relação dele com o filhinho pequeno, o Raul. A gente pegou uma coisa bem íntima mesmo. Como ele mesmo disse, que estava contando coisas que nunca tinha falado em entrevista nenhuma.



TL: As gravações dentro da casa dele trazem um olhar mais próximo do dia a dia do artista, como pai, marido e morador de São Thomé, qual foi sua percepção durante os dias de filmagem?

Diego Alexandre: Ventania é uma pessoa muito simples, você chama do lado de fora, por que a campainha não funciona, e ele já te chama para ver quem que é. Tem sempre um monte de gente que vai em São Thomé e que quer conhecê-lo. Durante a gravação, chegou um pessoal de um moto clube, um cara levando o filho dele de 15 anos, que é cego e sempre quis conhecer o Ventania. A gente pegou este momento, do menino cantando e ganhando um CD autografado. Ventania chega oferecendo Beck pra todo mundo. Ele não está nem ai.
Teve coisa que a gente não vai mostrar até o lançamento do documentário que é a bíblia dos loucos. Muita gente vem procurando, é um livro artesanal, que ele escreve em papel. Ele conta a vida dele, mas ele não conta  com uma narrativa linear, ele vai jogando coisas e pensamentos. Com músicas, viagens que ele tem, ele vai colocando ali. Tem mais de 600 páginas. Ele perdeu algumas coisas. Tem umas histórias legais, ele fala pela primeira vez da família dele, da mãe, do pai. Teve um depoimento muito curioso sobre sua espiritualidade, ele fala sobre a bíblia, ele sabe passagens da bíblia e estuda isto, e isto não é uma coisa que você imagina, ele fala que uma pessoa sem fé é uma pessoa vazia.



TL:Nestes dias de vivência com ele, como é a relação do Ventania com as drogas?

Diego Alexandre: A maconha pra ele é uma coisa super normal, toda hora que você chega lá ele está fumando, ele fuma normalmente, ele estava fumando maconha segurando o filho de um lado, coisas que eu vou ter até que editar. Maconha pra ele é uma coisa super normal e acredito que outras drogas também. Tipo o chá de cogumelo, tem uma dose certa, ele fala que hoje não toma um balde de chá como tomava antigamente.

TL: O que você vai procurar mostrar neste documentário?

Diego Alexandre: Depoimentos do Ventania, da esposa dele e do amigo que toca com ele. A gente tem muito depoimento e muito material, tanto que penso em fazer um filme maior. A minha idéia mesmo é mostrar a intimidade dele, claro que vamos enfocar a obra dele, mas acho que  tudo é misturado. O Ventania artista não tem diferença do Ventania em casa, é uma figura totalmente original. Ele é uma pessoa natural, aquela pessoa que chama pra comer na casa dele, arrota, tudo na frente da câmera, ele gosta, não é deslumbrado pela fama.



O lançamento do documentário deverá ser em Janeiro do ano que vem, e provavelmente será veiculado na Mostra de Cinema de Tiradentes, caso consiga ser aprovado.